A.Rios é o codinome, assinatura e marca de um artista plástico brasileiro de nome Antônio Pereira Rios. Antônio Rios, comumente chamado pelo apelido carinhoso de "Nico", foi artista plástico, publicitário, arte finalista e desenhista projetista, além de um grande evangelista e professor de artes.

Primeiros anos

Nasceu na cidade de Patrocínio Paulista em nove de dezembro de 1929. Filho de Joaquim Pereira Rios e Eudóxia de Figueiredo Rios, era o terceiro filho de oito irmãos, sendo o mais velho Fernando, seguido de Carlos, Antônio, Rubens, Noêmia, Tirza, Eunice e Sonila.

Nico, nasceu em um lar de origem humilde e levou uma vida difícil, tendo que amadurecer muito cedo. Seus pais abraçaram a Igreja Adventista do Sétimo Dia quando Nico não havia completado seu primeiro ano de vida. Após aceitar a Igreja, seu pai se tornou um evangelista voluntário, o que fez com que a família mudasse de cidade com certa frequência.

Deixando de lado suas antigas profissões, seu pai Joaquim se tornou alfaiate, profissão esta que lhe dava a vantagem de poder mudar de cidade, porém, não proporcionou à família uma vida mais muito oportuna e abastada. De fato, algumas necessidades foram enfrentadas por eles. Muitas delas superadas com confiança em Deus e ajuda de parentes e amigos.

O primeiro grande desafio enfrentado pela família Rios foi o falecimento da irmã mais velha de Nico, Noêmia. Aos onze anos de idade, a menina não suportou um problema cardíaco congênito que sofria. Por serem próximos em idade e muito apegados um ao outro, Nico ficou bastante abalado com a morte da irmã, tendo bastante dificuldade em superar esta perda. Este vazio o acompanhou por toda sua vida e lembrava frequentemente deste episódio marcante para todos.

Em Santos: venda de sua primeira obra

Logo no começo de sua vida, Nico começou a apresentar seus dons pela arte.

Por volta dos seus dez anos de idade, sua família residia na cidade de Santos, litoral Paulista, onde, na praia, fazia seus desenhos usando a areia como tela e um graveto como pincel, o que de fato chamava muito a atenção de banhistas que passavam e admiravam o talento do menino. Foi também em Santos que um artista plástico local de nome De Carli, percebendo o potencial do garoto, ofereceu a ele a oportunidade de ter aulas de desenho e pintura. Foi então que Nico teve a primeira oportunidade de aprender. As aulas eram pagas apenas com pequenos serviços de ajudante que o rapaz prestava ao velho artista.

Pouco tempo depois, concluiu e vendeu seu primeiro quadro. Nico ofereceu o dinheiro ao seu pai para ajudar nas despesas domésticas.

Tempos difíceis durante a guerra

Ainda na sua segunda infância, Nico assistiu, como muitos, o período da Segunda Guerra Mundial, momento marcante para uma geração de jovens. Foram anos difíceis, mas a família se manteve firme e com fé em Deus.

Sua juventude em São Paulo

Após deixarem a cidade de Santos e passando curto período por algumas outras, chegaram finalmente à cidade de São Paulo, onde, no final da adolescência, o jovem Antônio começou a se emancipar da família. Com seus dois irmãos mais velhos, Fernando e Carlos, já fora de casa, Nico começou a trabalhar como assistente de tipografia, onde aprendeu o ofício de tipógrafo bem como o uso das técnicas de offset e silkscreen.

Foi em São Paulo que o mesmo frequentou a extinta Escola de Artes Getúlio Vargas, onde veio a se tornar A.Rios e teve suas primeiras aulas profissionais.

Com novos conhecimentos agregados ao seu dom, as portas foram se abrindo para o jovem. Ingressou como desenhista projetista na CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) profissão da qual abriu mão para seu irmão mais novo, Rubens.

Além do trabalho na CPFL, Nico passou a prestar alguns serviços como arte finalista para campanhas publicitárias, pois sua verdadeira paixão estava nas ilustrações.

Vida adulta

Já adulto, frequentou a Igreja Adventista de Vila Matilde, Zona leste de São Paulo. Foi na década de 1950 que conheceu a Jovem Maria Pereira Pinto com quem se casou em setembro de 1955. Dois anos mais tarde, teriam sua primeira filha, Poliana. Os anos que se seguiram foram de lutas e conquistas. O jovem A.Rios havia deixado definitivamente o trabalho de projetista para ingressar na carreira da Publicidade como arte finalista. Trabalhava para uma empresa de nome “Companhia Litográfica Ypiranga”. Em uma época onde a fotografia pouco era usada em campanhas de publicidade, A.Rios fazia a arte final de propagandas. Seus desenhos podiam ser vistos em revistas como a extinta "Cruzeiro" e "Reader&s Digest".

Por seu trabalho com técnicas retratistas, o artista ficou conhecido no meio em que trabalhava, sendo muito requisitado e respeitado, chegando a ter que trabalhar por conta além do emprego fixo.

Trabalhando na CPB(Casa Publicadora Brasileira)

Em 1964, A.Rios foi apresentado ao chefe do Departamento de Artes da CPB (Casa Publicadora Brasileira) editora da Igreja Adventista no Brasil. Nessa ocasião, os livros impressos pela mesma, tinham ilustrações vindas dos Estados Unidos, inclusive obras de Harry Anderson, artista que inspirou A.Rios em sua arte e de quem era grande admirador.

A editora contava apenas com um desenhista, porém o mesmo não apresentava as mesmas técnicas de trabalho de A.Rios. Começava aí uma parceria que duraria muitos anos, nosso artista juntaria duas das suas maiores paixões, a arte e a religião.

Na CPB, A.Rios teve suas primeiras contribuições fazendo ilustrações para a *Revista Adventista* e *Revista Nosso Amiguinho*, na qual idealizou muitas coisas. Contribuiu ainda com ilustrações para livros tanto coloridos ou com traços em preto e branco.

Tempos de provação e fé

Nem tudo foi fácil. Sua primogênita, logo no começo da vida, apresentou problema cardíaco, experiência que A.Rios já havia vivenciado com sua falecida irmã.

Felizmente, com o avanço da medicina e joelhos dobrados, o casal Antônio e Maria recorreram a tratamentos precoces para a pequena Poli, como era carinhosamente chamada. Em meados de 1965, a criança passou por uma intervenção cirúrgica que sanou seu problema de saúde.

No ano anterior, porém, Maria, esposa de A.Rios, havia perdido uma gravidez, fato impactante na vida do casal que já vivia com a expectativa da saúde fragilizada da filha mais velha, porém sentindo a todo tempo o poder e a orientação divina, seguiram com determinação.

Em 1967, na edição de setembro da revista Nosso Amiguinho, como forma de expressar sua gratidão a Deus pela recuperação da pequena Poliana e de um golpe profissional que recebeu de um sócio, Antônio Rios fez o rosto da filha, da esposa e seu auto retrato em meio a multidão, um ato que a família só teve conhecimento após a publicação da mesma.

Depois da tempestade, a bonança

Nos anos que se seguiram, a vida de A. Rios apresentou bons resultados. No início dos anos 70 dois novos integrantes chegaram para alegrar ainda mais a família, Adônis, nascido em 1970 e Josiane em 1971.

No início desta mesma década, o artista fechou um acordo com a CPB para ilustrar com exclusividade uma coleção de livros chamada As Belas Histórias da Bíblia. Ele faria então uma coleção já existente fora do País, porém com uma nova paginação e modernidade na ilustração. Essa coleção elevou o nome do artista A.Rios a um patamar internacional, pois a coleção foi editada em outros idiomas além do português.

Nosso artista também ficou conhecido internacionalmente ao prestar serviços para uma gráfica chamada Gráficas Brunner. A mesma era conhecida por fazer arte para calendários e exportá-los. Uma coleção de arte que incluia aves e borboletas brasileiras, foram ilustradas . Essas obras foram usadas até em calendários impressos no Japão. Mas, o objetivo do artista era de se desvencilhar da arte publicitária, pois a mesma exigia trabalhos que iam contra os princípios do artista, como arte em propagandas de cigarros e rótulos de bebidas.Porém, não era tão fácil. Pelo seu bom trabalho, o mesmo era constantemente requisitado.

Um homem religioso

Como tinha grande amor à religião, A.Rios foi também um grande evangelista e pregador.

Ajudou, em parceria com pastores, a erguer igrejas e levar muitas famílias para Cristo. De fato, na região leste da capital paulista, muitas igrejas têm seu nome lembrado pelas famílias tradicionais. Entre outras estão a Igreja de Vila Ré, Cidade Patriarca, Artur Alvim e Ponte Rasa. Outras também receberam seu apoio, trabalho e dedicação. Como obreiro evangelista, A.Rios não era remunerado, pelo contrário, sempre dispôs de seus próprios meios para locomoção e compra de material para evangelismo. Nesse trabalho de ampla dedicação, muitas pessoas desceram às águas batismais como fruto de um trabalho feito com muita determinação e amor.

Em Caraguatatuba

Em 1975, A.Rios adquiriu um imóvel na cidade de Caraguatatuba, no litoral Norte de São Paulo. Uma casa que deveria ter fins apenas de veraneio, passou a ser morada da família em novembro de 1977. Esta decisão foi tomada pelo casal Antônio e Maria como forma de fuga do artista de trabalhos que não lhe agradavam para uma vida voltada apenas para a ilustração religiosa para a CPB. A.Rios deixava para trás clientes na área publicitária e arte não evangélica. Em Caraguatatuba, foi recebido com grande gratidão por um grupo de irmãos adventistas, não somente por ser uma pessoa conhecida no meio religioso, mas por ser um grande instrumento de evangelização. Foi peça importante para erguer uma igreja que se encontrava fragilizada, fez novos amigos e logo mais pessoas passaram a abraçar a fé cristã por intermédio de seu trabalho.

Pouco tempo depois de sua mudança para Caraguatatuba, sua filha Poliana, então casada e mãe, também se mudou para lá. A família estava junta novamente.

Durante os anos seguintes, A Rios foi um semeador da Fé Adventista na cidade, tornando-se conhecido dentro e fora do mundo religioso e uma pessoa de respeito para toda a comunidade.

Como tinha o privilégio de trabalhar em casa em seu ateliê, viajava para São Paulo uma vez por mês para entrega dos trabalhos da CPB, empresa, que na década de 1980, deixava também a cidade de Santo André para inaugurar sua nova e atual sede na cidade de Tatuí, interior paulista. Esta mudança teve um impacto no artista, pois, a distância se fazia muito maior do que antes.

Tempos de mudança

Ainda no final da década de 1970 e começo da de 1980, A.Rios passou a fazer mais quadros por encomenda, devido a demanda que não parava de crescer. Suas obras decorativas passaram a ser encomendadas por pessoas importantes do município e até mesmo fora dele. Este passo dado pelo artista o colocou em um patamar além do já conhecido, transformando-o em um artista plástico conhecido pelos admiradores de arte sacra.

A.Rios ficou ativo como ilustrador da CPB até meados dos anos de 1990, quando se encerraram as ilustrações das Belas Histórias da Bíblia. Após o término das obras e com o aparecimento de novas técnicas fotográficas, a paixão de A.Rios pelo trabalho de evangelismo ilustrado, começou a declinar. Alguns trabalhos que lhe foram dados eram de menor importância, porém, continuava aclamado por muitos que o consideravam um marco na história da ilustração de livros evangélicos da Igreja Adventista.

Ele recebeu muitas cartas de pessoas que se converteram através das suas ilustrações. Uma destas cartas, enviada por uma jovem do estado da Bahia, contava que a família havia se convertido ao adventismo. Sua avó, que não sabia ler, aprendeu muito sobre o amor de Deus observando as ilustrações. Essa era uma recompensa para o autor das obras. Cercado por pessoas que gostavam de ouvir suas pregações e estudos bíblicos, A.Rios se deparou com obstáculos e oposições que não o fizeram retroceder nem tampouco esmorecer.

Nosso amado A.Rios nunca foi homem de se deixar abater. Os anos que se seguiram após o término dos seus trabalhos impressos colocaram a vida financeira do artista em baixa, porém, permaneceu firme e grato pelas bênçãos recebidas.

Vida madura

Os anos que seguiram ao término dos trabalhos com a CPB, levaram o artista a dedicar mais tempo às artes plásticas, chegando até mesmo a exportar algumas obras para o Canadá. Nesse período de sua vida, abriu a porta de sua casa para ensinar arte. Várias pessoas o procuraram ao longo dos anos seguintes para aprender ou aperfeiçoar suas técnicas. A.Rios chegou a ser premiado com alguns trabalhos, porém, nunca teve inclinação para o exibicionismo gratuito. Um dos momentos de maior alegria da família Rios eram as tardes de sexta feira, onde todos se reuniam para os cultos de boas vindas ao Sábado. A casa sempre cheia com os filhos e netos, com louvores e alegrias. Mas nada dura para sempre.

Em 1999, Maria Rios, amada esposa e mãe, faleceu de complicações com um quadro de diabetes e falência renal. Um período enfrentado com grande tristeza pelo artista, filhos, netos e genros. Um acordo firmado entre os irmãos, que prometia uma sólida união familiar, foi também um amparo para o então recém viúvo A.Rios. A família continuou com sua tradição de se reunir em cultos semanais, procurando trazer alegria a casa e exemplo de união para todos.

No ano 2000, após fazer alguns exames, A.Rios foi diagnosticado com um câncer de próstata, uma descoberta que abalou muito toda a família. Porém, graças à oração e ao diagnóstico precoce, Antônio Rios conseguiu um tratamento a tempo e consequentemente à cura. Nos anos que se seguiram, passou a diminuir suas atividades profissionais.

Arte final

Já aposentado, passou apenas a pintar quadros e a dedicar seu tempo à ministração de estudos bíblicos.

No dia 26 de agosto de 2010, após sofrer um AVC e ficar uma semana internado, nosso querido Nico, A Rios, descansou no Senhor aos 81 anos de idade. Com dias cheios de bênçãos, mesmo enfrentando momentos de dificuldades, faleceu de forma serena como um cristão certo de que completou a carreira e guardou a fé.

Sepultado no túmulo da família, aguarda ser chamado por nosso Deus no glorioso dia da volta de Cristo.

Deixou na ocasião seus filhos, Poliana, sua primogênita e por um tempo companheira de trabalho (falecida em junho de 2016), seu único filho homem, Adonis e sua caçula Josiane. Deixou também seus netos, dos quais sentia muito orgulho, Alysson, Anderson e Allan, filhos de Poliana e Jonas; Maria Enid, filha de Josiane e Ibrahim e Danielly, filha de Adonis e Silvia, além do bisneto Lucas.

O legado

A família tenta até os dias de hoje manter a união e em especial a memória de seu ilustre patriarca, um homem que tanto nos ensinou, e que a tantos converteu e encantou com seu trabalho, disposição e paixão em desenhar e ensinar. Antônio Pereira Rios agora recebe esta homenagem póstuma idealizada por quem não quer perder a memória de um artista, evangelista, esposo, pai, avô, bisavô e herói de verdade. Sem qualquer tipo de presunção, pela graça e misericórdia de Deus ele pôde exclamar antes de descansar:



Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.

2 Timóteo 4:7,8